quarta-feira, 18 de julho de 2007

Em tempos de supremacia da auto-ajuda (ainda que disfarçada de neuro-lingüística e outras fantasias), é cada vez mais difícil escrever um texto como o que pretendo sobre o terrível acidente aéreo ocorrido na terça-feira em São Paulo. Mas tento.

Por mais que saibamos que a morte faz parte da vida, a dor da perda de pessoas queridas é sempre dolorosa, principalmente quando acontece de uma forma inesperada como esta. Há centenas, milhares de pessoas que morrem diariamente em decorrência da desigualdade social extrema e violenta, da fome, das guerras (declaradas ou não), do descaso no sistema público de saúde, da forma de vida cada vez menos humana que a humanidade tem escolhido. Mas um acidente destes, tão próximo de nós, obriga-nos à reflexão.

Logo que se toma conhecimento da notícia do acidente, a primeira coisa que se torce é para que não haja nenhum conhecido entre os passageiros do vôo. Mas logo passei a pensar nas tantas pessoas por quem tenho profundo carinho e que faz tempo que não vejo. Anos, em alguns casos. Se uma delas estivesse à bordo do avião que explodiu, viria o remorso de não ter compartilhado mais a vida enquanto havia chance. Quem sabe falar-lhe sobre o quanto gosto dela.

Há pouco, uma amiga escreveu em seu blogue uma carta aberta a uma conhecida dela com quem se encontrara fortuitamente depois de muito tempo. Esta amiga da minha amiga cogitou uma consulta aos astros para saber o que eles planejavam com aquele encontro. Não sei se os astros tiveram responsabilidade nisso, não creio que eles tenham este poder. Mesmo que tivessem, não deveríamos contar com isso.

Submersos em compromissos, acabamos deixando pra depois e por fim esquecendo o compromisso de matar a saudade, compartilhar a vida, estar com quem amamos e com quem nos ama. Às vezes substituem isso por contatos frios e distantes pelo orkut, msn etc. Auto-engano. A vida é o que existe, e não se pode saber até quando.

(Acabo de pensar que tudo o que eu queria escrever aqui já foi escrito tanto, e que às vezes as palavras não valem quase nada.)

2 comentários:

mulher de sardas disse...

pô, Waguinho, fiquei toda me achando com a tua citação sobre o meu texto, porém, vi que tu não entendeu nadinha dele...

eu com certeza não atribuí, não atribuo e jamais atribuirei nada aos astros... nem encontros surpreendentes nem tragédias aeronáuticas. sou um ser cético. cada vez mais.

das duas uma: má leitura do teu lado ou má escrita do meu.

beijos e fica sabendo que, de minha parte, se eu explodir em um avião, estou muito de bem contigo e, mesmo não nos vendo tanto quanto seria bom, sei da nossa amizade e sei do nosso carinho.

Anônimo disse...

se as pessoas vivem escrevendo sobre amor, morte, vida e dor, é porque é são assuntos de extrema importância que não podem ser esquecidos - necessitando sempre de uma nova reflexão.

nunca estive tão perto da morte como hoje, depois que meu pai partiu. e tudo isso que tu escreveu já tinha me dado conta há um ano - mas nunca ousei uma tradução em palavras.

ainda bem que quando realizei todas essas verdades na minha cabeça pude dormir em paz sabendo que aproveitei cada minuto ao lado do meu pai. o problema é que a gente quer mais, sempre.

mas antes uma saudade de coisas boas do que um remorço com gosto de arrependimento. gosto de me arrepender das coisas que fiz, e não das que eu não fiz. e isso, meu caro, é pra poucos.

parabéns, o texto é lindo.

ana c.