quarta-feira, 21 de novembro de 2007

e agora você está só


(...) é muito mais fácil contabilizar os números do que os sentimentos e as culpas pelo que cada um está fazendo de errado. Fechar a conta somando e diminuindo os custos é um exercício de cálculo. Fechar a conta somando e diminuindo os erros e acertos é um exercício de humildade. Fechar a conta sem sequer abri-la é um exercício de generosidade. (André Mags)



E agora você está só. E agora você tem apenas um passado tão lindo que lhe dá medo memorá-lo, pois dói tanto sabê-lo passado, absoluto, cada vez mais distante. Passado que você não consegue nem jogar fora nem pendurar na parede. Todos aqueles planos tão singelos e tão sonhados agora pertencem ao futuro do pretérito. Pertencem a um futuro que não enxergam os olhos da esperança, mas os embaçados olhos do inalcançado. Você queria tanto fazer o tempo voltar um pouquinho. E a angústia de não poder. Se você soubesse o que estava em jogo. Mas você sabia. Se você soubesse que não valem as palavras, não valem os humores, não valem as incomodaçõezinhas ante ao fato de que aquela mulher detentora da sua felicidade pode simplesmente dizer-lhe adeus. Mas você sabia. Agora o que importa seu orgulho? O que importa seu ímpeto? Agora o que importa quem tinha razão? O que importa agora?

Agora você está só. E não se trata, você bem sabe, daquela solidão boa que você antes chegava a ensejar. Agora sua solidão é uma solidão impossível. Impossível e permanente. Uma solidão pesada que não é liberdade, mas é falta, é lembrança, é ausência. Uma solidão que no cinema vai comer pipoca ruidosamente ao seu lado. Que no bar vai estar caindo de bêbada e babujar com hálito quente e mal-cheiroso verdades na sua cara. Que nas viagens vai convidar-lhe para voltar para casa e em casa vai implorar-lhe para fugir.

Só. E você bem sabe que não adianta pensar que a morte existe e que de qualquer modo todos temos de enfrentar. Porque a morte é um imperativo, a morte nos transcende. Mas sua felicidade está logo ali, e poderia bastar um telefonema. Tudo que você queria é que ela atendesse o telefone e mesmo com uma voz amuada aceitasse passar o fim de semana em um chalezinho de um lugar quase deserto para que você pudesse propor a renúncia a tudo o que não seja amor. Aí você mostraria para ela o quanto a ama e você seria feliz apenas por vê-la sorrir, por vê-la dormir, por vê-la acordar e lhe dar bom dia. Você seria feliz apenas por vê-la feliz.

Mas agora você está só. E o arrependimento é um grito sem reverberação, que só você ouve e de nada adianta. E você sabe que não há culpados porque não há crime. E agora você descobriu que tudo foi posto fora e não precisava, e não devia, e não podia. E você não queria. Mas por algo que você não sabe ao certo – orgulho? egoísmo? intolerância? – você trocou o tudo pelo nada. Lembra daqueles programas idiotas de televisão? “Você troca uma banana estragada por um automóvel?” “Siiiiiiiiimmmmmmmm”. Você trocou. E agora você está só. Insuportavelmente só.