quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

um beijo, à distância

Eu estava tão feliz, apenas pela pequena delicadeza de me mandares um beijo, à distância. Depois de tantos dias de solidão, febre e envelhecimento, aquele teu gesto me restituiu o homem que eu não encontrava mais em mim, e em minha janela eu já conseguia ver estrelas e até uma ponta da lua. E me permitiu olhar não mais apenas para o passado, mas adiante. Restos de força recolhi pelos cantos da casa para refazer meu sorriso e meu olhar que iriam te receber com tamanho entusiasmo e aplacariam tudo o que não coubesse naquele abraço longo e sôfrego que eu antevia. Estava tão feliz e parecia definitivo, embora não ignorasse que a felicidade se leva muito tempo para construir e um instante para pôr abaixo. Como num golpe, as gigantes nuvens carregadas voltaram a espreitar meu desassossego. Mas guardei aquela tua pequena delicadeza que traduzi como prova de amor. Aquele beijo, à distância, guardei bem junto de mim. E é ele que docemente me desperta a cada manhã.