Era tamanha a convicção que acertou com um grupo de amigos, todos gremistas, de assistirem juntos ao embate futebolístico. Para tanto, combinaram de passar a noite pelos bares e, às oito e meia da manhã, horário que começaria a partida disputada no Japão iriam para a casa de um deles degustar a irreversível derrota colorada.
Acontece que a noite, assim como o futebol e as mulheres, gosta de desafiar a lógica e de pregar peças nos humanos incautos, e eis que a beleza arrebatadora de uma ex-colega de escola, que ele tanto desejara e jamais havia conquistado, arrancou o nosso protagonista da mesa de seus companheiros, desfalcando a corrente anticolorada. Ele não faria falta, argumentou com o grupo, pois o jogo eram favas contadas.
Despediu-se prometendo presença na festa do título do Barcelona e se embrenhou na libidinosa mata do desejo, cujo destino não muito tortuoso foi a residência da dama. Não entendeu porque o permanente desprezo da moça nos tempos de colégio transformou-se em desejo arrebatador, mas o que importava era que finalmente a tinha conquistado, e o sabor das conquistas é proporcional às dificuldades de alcançá-las.
Quando entraram, ardentes, no apartamento, o sol já raiava, o que significava que os atletas de Barcelona e Internacional já corriam pelo gramado oriental disputando a taça mais almejada pelos clubes de futebol ao redor da Terra. Mesmo com a excitação do jovem casal, arranjou um jeito de pedir à amante que ligasse o televisor, e em meio a beijos, sussurros e suores, tentava prestar atenção ao jogo.
Tanto a batalha dos gramados quanto a da cama se encaminhavam para o final apoteótico. A garota, desfigurada de prazer, gemia cada vez mais alto. Porém, súbito, a voz do narrador pareceu tomar o ambiente: “O Inter vai pro ataque, o Inter se manda. Olha o Iarley, vamos nessa, olha a chance. Abriu pela direita. Olha o gol, olha o gol, bateu, olha o gol, olha o gol, olha o gol, olha o gol, olha o gol, olha o gol. Gooooooooooollllllllllllllll. Éééééééééééé do IIIIIIIInteeeeeerrrrrr”.
A partir desse momento, ele não ouviu mais nada. E nem fez mais nada. Tentou concentrar-se na batalha da cama, mas essa também já estava perdida, e ruíram no mesmo instante os dois grandes orgulhos do meu amigo: o de que o Grêmio era o único gaúcho campeão mundial e o de nunca ter brochado. Logo, foi-se embora com uma despedida sem graça, derrotado em meio àquela manhã vermelha de domingo.